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LabirintoNa mesma medida que desejamos intensamente amar tememos, desde sempre, o contraponto dessa experiência: a rejeição e o abandono. O sociólogo polonês, Zigmunt Bauman, tentou explicar o momento que atravessamos nesta “sociedade líquida” que propõe a superficialidade dos vínculos. Contudo, o filósofo francês, Pierre Lévy, nos mostra outra saída para esta ambigüidade. Ele nos leva para uma fascinante viajem que permite reconhecer o outro lado da nossa alma, revelando a verdade nunca antes dita com tanta maestria:

“Cedo ou tarde será preciso enfrentar o seu dragão. Cada um de nós tem na vida um monstro diferente. O que parece terrível para uns, para outros nada mais é do que um incômodo passageiro. Mas para todos existe um “grande medo”, um Minotauro no centro de seu labirinto interior, uma besta imunda a ostentar nosso rosto.

Um dia será preciso lutar por si, por sua própria causa, e não por alguma finalidade elevada, social, política, humanitária, espiritual ou qual­quer outra. Decida-se de vez a enfrentar o que o impede de viver plenamente. Guerreie por sua vida. Lute contra o seu grande medo. Hoje é um bom dia para aceitar o combate, parar de fugir, lutar com o que mais o aterroriza. Você entende que as pessoas e as situações que o deixam mal são meros disfarces desse medo, as máscaras do dragão que o habita?

Toda vida contém uma descida aos infernos. O labirinto é uma representação clássica do mundo infernal (o rei Minos era juiz dos infernos), mas também da matriz. Como sair do labirinto? Como retornar do país dos mortos? Como ressuscitar? Ou renascer?

Teseu, como todos os heróis, combate o monstro antes de unir-se à princesa. A princesa, ou Ariadne, é seu lado feminino, sua anima, sua parte emotiva e terna. Foi porque se uniu à sua parte feminina por um fio, porque se uniu consigo mesmo que Teseu pôde vencer seu medo (o Minotauro) e tornar-se livre (sair do labirinto). Ele está sufici­entemente seguro de sua identidade sexual para aceitar seu lado femi­nino. É a energia da união consigo, do encontro consigo mesmo (o fio que une Ariadne a Teseu) que lhe permite tornar-se livre. Tornar-se livre, tornar-se uno e vencer o próprio medo são a mesma e única coisa. Ariadne, como todas as companheiras dos heróis, libera seu lado masculino, sua força e coragem. O herói que libera a princesa aprisionada emancipa seu próprio lado feminino. O dragão é sempre o medo, o medo de ser si mesmo… ou de deixar de sê-lo se nos liberarmos. O argumento que se apodera de nosso ser e no qual nos aprisio­namos: eis o nosso dragão. Enfrentar o dragão é reencontrar a situa­ção, exatamente a situação em que a armadilha se acomodou. Retornar ao instante da queda, ao lugar onde perdemos a liberdade. A frase que nos condenou. A idade em que perdemos a visão. Deve­mos reencontrar esse instante de que queremos fugir com todas as nossas forças. E uma vez lá, será preciso reviver o nosso papel, mas, desta vez, saindo da armadilha por cima. Se o acontecimento origi­nal tiver provocado o medo ou o orgulho, devemos nos desprender com plenitude ou humildade. Sair com inocência se tiver sido a cul­pa a origem da situação. Herói, princesa e dragão são a mesma e única pessoa.

Só consigo apreciar a mulher que há em você, porque minha di­mensão feminina é capaz de reconhecê-la. Só sou capaz de amar a mulher que há em você, porque amo a mulher que há em mim. Você só consegue amar o homem plenamente homem que há em mim porque tem em si essa dimensão de virilidade assumida, plenamente realizada, amada. Então você é capaz de amar o homem que sou, sem invejar minha virilidade, sem temer minha estranheza. Da mes­ma forma, meu amor por você não está misturado com nenhuma inveja de sua feminilidade triunfante, nenhum medo, porque essa feminilidade também está em mim. O amor é a relação recíproca das almas e de suas diferenças. Uma “identidade” que não considera as identidades diferentes que encontra é uma identidade morta, reativa, odiosa, impotente. Amar é despertar o outro que há em si. Abandone para sempre as opiniões que os outros têm de você. Afaste-se completamente das imagens e representações que você faz de si mesmo. Abandone totalmente qualquer idéia de mérito ou de culpa, de inferioridade ou de superioridade. Não há nada a “pro­var” nem para si nem para os outros. Pare de perguntar quem você é. A identidade é uma sujeição: você só é manipulado porque forjou uma imagem de si mesmo. A identidade é uma prisão”.

Saia do labirinto da identidade. “Eu existo” é o título mais elevado. Tudo o que lhe acrescentar­mos o depreciará.